A cultura de dados é fundamental para embasar o trabalho de Content Design

UX Mania
6 min readMar 17

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Homem branco com camiseta marrom, com o mar de Vitória atrás.
Weverton Campos — Foto: divulgação

Ele é capixaba e, assim como eu, um libriano de mão cheia. Gateiro por si só, o paizão de Lizzie e Brigitte e entusiasta da Astrofotografia, tem um background de jornalismo com passagens por UOL, Rede Vitória (afiliada da Record no Espírito Santo) e Descomplica.

Eu estou falando de Weverton Campos, que hoje atua como Content Designer no Itaú Unibanco — dentro da unidade de negócio PJ (Pessoa Jurídica).

Conheci o trabalho de Campos quando eu estava assistindo alguns painéis da Semana do Design Itaú, que rolou no final de 2022. Curti pacas o conteúdo da apresentação dele e pensei: “porra, vou entrevistar esse cara”.

Na ocasião, o Content Designer falou com uma elegância e simplicidade sobre a importância da gente utilizar os dados de forma assertiva no nosso trabalho.

Nessa entrevista, esse tópico (dados) teve um destaque maior, como por exemplo quando Weverton aborda a cultura de dados, dando conta que ela “fundamental para embasar, acelerar, escalar e promover o trabalho de Content Design”.

Bora então conhecer um pouco mais sobre a rotina de Weverton Campos no Itaú e seu trabalho pautado em dados. Leia à vontade!

Quais os desafios de ser Content Designer em um dos maiores bancos do Brasil? Me fala um pouco do seu dia a dia e do contexto que você está inserido.

Estou inserido no produto para Pessoa Jurídica (PJ), na parte de pagamentos e recebimentos. Então lido com fluxos como Pix, transferências, emissão de boletos e geração de QR Code.

Acredito que os alguns dos meus grandes desafios como Content Designer, dadas as características do segmento, é olharmos com muito carinho para a linguagem do cliente e replicarmos essa linguagem de forma assertiva para de fato haver uma comunicação.

A ideia é não cair em armadilhas como o uso do “banquês” e de jargões

Outros grandes desafios que identifico, sob a minha ótica de Content Designer, são a garantia da consistência de terminologias, dado o tamanho da instituição e dos seus produtos, e a identificação de oportunidades para girar positivamente o ponteiro do negócio.

Uma das principais questões de se trabalhar com a linguagem no meio financeiro é traduzir jargões para o público. O que fazer quando não é possível substituir um jargão?

Realmente existem muitos jargões no meio financeiro. Mas a verdade é que quase sempre é possível substituí-los por algo mais familiar.

É muito comum o usuário ter uma forma mais simples de se referir a determinada coisa ou função. E cabe a nós Content Designers descobrirmos esses padrões de identificação por meio das ferramentas e meios de pesquisa que dispomos.

Um exemplo genérico que posso citar é efetivar. Trata-se de um termo muito encontrado no meio financeiro, mas que não costuma estar na “boca do cliente”. E quando aparece é mais por contaminação do seu campo semântico pelos nossos próprios produtos digitais do que por forma genuína de se referir àquilo.

Então fica o desafio: será que existe um termo do dia a dia para substituir efetivar? Como descobrimos e validamos isso, deixando nossa comunicação mais natural e fluida? É um processo

Às vezes pode ser que um jargão não seja substituível mesmo, como acontece em jornadas com Cripto, por exemplo. Esses termos, muitos em inglês e outros técnicos, são característicos para quem transaciona nesse meio.

Porém, acredito que também é nossa parte facilitar a entrada de pessoas “leigas” em universos como esse, mantendo os termos próprios e ainda assim dando a oportunidade aos novatos de compreendê-los, com alguns recursos textuais educativos de instrução e definição.

Esses recursos textuais que me refiro podem ser traduzidos, na prática, por descrições, coach marks e tooltips, por exemplo, que situam o usuário e reduzem sua insegurança.

Você apresentou o painel “Dados a favor do Content Design” na Semana do Design Itaú. De que forma Content Designers podem se beneficiar de uma cultura de dados?

A cultura de dados é fundamental para embasar, acelerar, escalar e promover o trabalho de Content Design. Quando temos dados estruturados, e temos facilidade de acesso a eles, podemos tirar muitas oportunidades de melhoria para o fluxo e consequente benefício do usuário.

Pesquisas de opinião, como a escala Likert, podem te ajudar a identificar melhorias de conteúdo no produto, já que contam com depoimentos dos usuários.

Comentários de lojas de aplicativo podem te ajudar a identificar termos referentes ao campo semântico do usuário e até a construir ferramentas de garantia de consistência, como um Dicionário de Vocabulário Controlado, por exemplo. E fora que tem aquela brincadeira de “contra dados não há argumentos”.

Desde que olhados sob a ótica correta, sem vieses, os dados ajudam demais na defesa e promoção dos nossos pontos de vista e do nosso trabalho como um todo

Foto que mostra o céu e estrelas e árvores
Astrofotografia, uma das paixões de Campos — Foto: divulgação/Nikon

Qual a importância do dicionário de vocabulário controlado como ferramenta para escalar dados semânticos de uma empresa?

Apesar de muito falado, especialmente em cursos de Content Design, acredito que o Dicionário de Vocabulário Controlado tem sua importância ignorada na maioria das organizações. Atualmente, estou concluindo um na gerência em que atuo — lembrando que o trabalho na verdade nunca termina, já que ele é vivo e adaptável.

Eu vejo grandes oportunidades que teremos a partir do uso dele. Não só pelo Content, mas por outras pessoas que atuam com a gente, em especial Product Designers

A partir do momento em que você extrai e cataloga termos mais comuns do usuário no Dicionário de Vocabulário Controlado, assim como o sentido que ele dá pra aquele termo, ficamos muito mais próximos de atendermos às boas práticas de Content Design, como linguagem simples, familiar e consistente.

Não sabe se usa compartilhar ou enviar? No dicionário vai ter o mais usado para esse contexto. Emitir ou gerar? Ocultar ou esconder? Estará tudo lá.

O SEO é comumente associado a uma ferramenta que serve, basicamente, para deixar um blog no topo das buscas no Google. Como dissociar essa imagem e trabalhar com SEO também pensando em UX?

Quando não temos por onde começar, a pesquisa em campo aberto na web, ou desk research, é uma ótima forma de se ter insights e criar hipóteses para as coisas.

Como será que a grande maioria das pessoas chama um demonstrativo de pagamento: contracheque ou holerite? Será que se eu escrever tíquete-refeição eu vou estar sendo familiar pro meu usuário ou o ideal seria vale-refeição? Ou vale-restaurante?

Nem sempre nossos próprios dados estruturados de conteúdo, extraídos de nossos usuários, vão nos dar essas respostas. Até porque nem sempre esses fluxos e funções já existem.

Por outro lado, existem ferramentas voltadas mais a profissionais de SEO, como Google Trends e Ubersuggest, que catalogam os termos e expressões mais usados pelas pessoas ao fazer pesquisas na internet em buscadores.

Elas apresentam essas palavras-chaves para os profissionais que vão produzir conteúdo digital, tornando mais simples o caminho de adquirir relevância no ranking de resultados do Google.

Para Content Design, a finalidade provavelmente vai ser diferente, pois na maioria das vezes não temos a responsabilidade de rankear bem um site. Mas o meio, de consumir o benefício dessas ferramentas, é parecido.

Quando as pessoas vão pesquisar na internet, é inegável que muito da experiência da oralidade dela é transmitida e os estudos de Linguística apontam isso. Ali com certeza ela deixará pistas valiosas sobre seu modelo mental e sobre seu campo semântico

Então, quem tem conhecimento, mesmo que básico, em áreas como SEO e Inbound Marketing, pode usufruir dessas pistas para partir de algum lugar, que não o achismo nosso de cada dia, desde que observado o contexto e eliminados os vieses. Eu particularmente amo.

Iae curtiu demais o papo? Que saber como foi o painel do Weverton no Itaú? Tá fácil, fácil no Youtube, só acessar e assistir (a partir das 2 horas e 15 minutos de vídeo).

Não deixe de ler a entrevista de fevereiro — que fiz com a Dani Cruz (Content Design Lead na Raiadrogasil).

Bom, é isso! Até a próxima camarada, vamo que vamo ✊

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Ideias, descobertas, engajamento, transição. Um blog sobre UX Writing, Design, Comunicação, Música e outros assuntos instigantes. Por Felipe Madureira.