A visão de futuro é UX Writing evoluindo a partir de UX Research

UX Mania
6 min readMar 18, 2021

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Bruno Rodrigues está de paletó cinza com uma camiseta preta por baixo. Ele usa óculos tem barba rala e cabelo grisalho.
Bruno Rodrigues — Foto: divulgação

No começo do mês de março, eu dropei aqui nesse sítio a primeira parte da entrevista que fiz com o Bruno Rodrigues, um papo muito focado na força da comunidade brasileira de UX Writers, de como é importante para o desenvolvimento dos mercados, em especial o de UX, as pessoas compartilharem conhecimento — darem a “cara a tapa”.

O Bruno contou para nós um pouco de sua trajetória e eu guardei para a segunda parte as perguntas que vão mais na linha que muita gente quer saber — como começar na área, o impacto no mercado, o “teto baixo” do redator, entre outras coisas.

“A mudança que o UX Writing trouxe foi o estudo do pedacinho, da pecinha de Lego, da palavra, da expressão, em componentes como botões, itens de menu, composição de link, composição de título, etc…”, diz.

A sinergia entre UX Writing e UX Research foi um dos pontos que chamaram a atenção, a semântica como sendo um dos pilares da disciplina. Bruno Rodrigues enfatizou bastante o tema durante a conversa. A questão está sendo abordada por algumas pessoas, como a Ana Beatriz Miranda, que fez questão de destacar essa relação em um texto que ela fez para o UX Collective. Agora vamos para a entrevista!

O que significa o UX Writing estar na segunda infância?

Eu acredito que o UX Writing está terminando a segunda infância. A primeira infância seria o que é o UX Writing em si (que Bruno define como sendo o “irmão mais novo dos UX”).

A segunda infância é a percepção do próprio mercado — entre a gente e para o mercado — de que existe uma diferença clara entre as ferramentas de redação técnica.

Ou seja, Copywriting é diferente do Webwriting, que é diferente do UX Writing, que é diferente do Tech Writing. É o amadurecimento da percepção de que UX Writing é muitíssimo semântica e por conta disso UX Research na veia.

De que modo UX Research e UX Writing se relacionam?

No UX Writing, o foco é extremo no usuário. Então, no momento da escolha das palavras, dos pedacinhos (os tais chunks), quem sabe esses termos e expressões não é o redator.

Você tem que fazer a pescaria semântica, usar técnicas que passam pelo UX Research para você ir até ao seu público.

O redator é um instrumento dessa pescaria. O que fazer com esses peixes?

As peças de Lego do UXW — Imagem: Freepik

Como você avalia a UX Writing se relacionando com storytelling? Qual sua visão de futuro da área?

Eu vejo storytelling associado ao Design Conversacional, mas estritamente em UX Writing fica complicado. A redação para o digital não começou agora, com o UX Writing. Design e Digital nasceram em meados dos anos 90, quando surgiu a Internet.

A Tecnologia da Informação evoluiu dessa forma, desde então, e a área de pesquisa surgiu na mesma época. O ponto é que existem outras ferramentas anteriores, como o Webwriting.

A visão de futuro é o UX Writing evoluindo a partir de pesquisa, de UX Research.

A mudança que o UX Writing trouxe foi o estudo do pedacinho, da pecinha de Lego, da palavra, da expressão, em componentes como botões, itens de menu, composição de link, composição de título, etc…

A área de UX Writing é apontada como sendo multidisciplinar ou transdisciplinar. Como você analisa essa afirmação?

Eu entendo essas ideias, mas para mim é mais uma interdisciplina. Ou seja, dentro da caixa de UX, Writing se relaciona com Design, que se relaciona com pesquisa, que se relaciona com desenvolvimento, que se relaciona com o projeto em si.

Escrita para produtos/UI, chatbot e VUI são alguns dos principais nichos de atuação das pessoas writers no Brasil. Para onde você acredita que a disciplina pode passar a atuar daqui pra frente?

Eu tô pra escrever sobre isso. Desde que entrei em contato com UX Writing eu venho observando o desenvolvimento de escrita para chatbot, assistente de voz e eu já começo a achar que esse tipo de escrita é um filhote de UX Writing. Eu não sei o nome que eu daria para isso.

De certa maneira tá evoluindo tanto, que eu acho que vai surgir uma outra ferramenta especificamente para essa área (chatbot e VUI), diferente da redação para aplicativos, que acaba sendo muito a área de UX Writing.

É bom para todo mundo que evoluiu, que há um subproduto de UX Writing.

O mundos dos bots — Imagem: Freepik

Há uma confusão no mercado, com vagas de UX Writing alocados em equipes de marketing, ou jobs descriptions que não se alinham à função de UX Writer. Por que isso acontece?

Uma vez que eu vejo uma vaga de UX Writer, para trabalhar em uma equipe de marketing, eu vou deixar de me candidatar? Não. Mas é aquela história — é legal que eu saiba que eu vou estar trabalhando com redação publicitária (Copywriting).

Por conta dessa noção, eu vou trabalhar os aspectos referentes a essa ferramenta — nada a ver com UX Writing. Se você entrar numa empresa que faz essa confusão, é bom falar: “olha, isso aqui é mais Copywriting do que UX Writing”.

Essa é a crítica que eu faço. Uma empresa contrata um writer para trabalhar com marketing e algumas pessoas transmitem uma mensagem ao mercado: “viu é tudo a mesma coisa, só o nome é diferente”.

Tem que ter a responsabilidade do que a gente diz para o mercado. E respeitar exatamente o que é UX Writing, qual é o valor da área. Para não misturar as bolas.

Por isso, eu sempre faço questão de citar em todos os lugares: a caixa de ferramentas de redação técnica para mídia digital. É bom saber as diferenças, pois somos o mercado. Somos responsáveis por esse mercado dar certo ou não. Aparecer vaga ou não.

Qual o conselho que você dá para quem está planejando começar a carreira em UX Writing? Como encarar a profissão de UX Writer?

Eu encaro UX Writing como um tripé: usabilidade de texto, semântica (o coração do UXW) e Arquitetura da Informação.

Em UX Writing não tem adrenalina, não tem contação de história, não tem criatividade e sim o lidar com objetividade. Muita gente no mundo todo tem essa mesma visão. As pessoas estão mais preocupadas com pesquisa e semântica.

Quem quiser entrar nessa área precisa saber que UX Writing é uma ferramenta nessa caixa que eu mencionei. Saber que quando você quiser ser criativo, pode usar a ferramenta do Copywriting (persuasão e criatividade), se quer lidar com texto corrido, storytelling, a relação do texto com outros elementos como vídeo e infográfico, pode usar a ferramenta de Webwriting.

Pra fechar, me fale um pouco sobre o “teto baixo” da carreira de redator.

A carreira de redator, de uma forma geral, seja em UX Writing, Publicidade ou Jornalismo, é muito limitada. O normal é chegar aos 40 e tantos, 50 anos e começar a trabalhar por conta própria, fazer consultoria, com raras exceções. Isso é o “teto baixo”.

Eu aconselho aproveitar a interdisciplinaridade do UX Writing, que se liga à pesquisa, design e planejamento. Cabe ao redator ficar de olho e adquirir essas outras ferramentas para garantir o futuro profissional.

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Ideias, descobertas, engajamento, transição. Um blog sobre UX Writing, Design, Comunicação, Música e outros assuntos instigantes. Por Felipe Madureira.