Depois de quase 2 anos, o UX Mania volta a publicar entrevistas com profissionais de UX. A última foi com Júlio Lira, no longínquo abril de 21. A primeira da série é com a braba Danielle Cruz (Dani Cruz). Este ano, o foco ainda é na galera de writing, mas pode ser que eu convide pessoas de outros campos (Product Designers, UX Researchers, Product Managers, entre outras pessoas).
Dani Cruz é uma profissional da área de UX Writing que eu me identifico bastante, principalmente pelas iniciativas em prol da comunidade. Seja com o Mapa de Habilidades, como com o curso de Figma.
“Sempre esteve no meu propósito como ser humano compartilhar conhecimento. Eu tive blog e canal no YouTube por muito tempo, por gostar de compartilhar as coisas. Eu gosto de fazer conexões entre as pessoas e conectar os conhecimentos”, explica Dani.
Cruz é Content Design Lead na Raiadrogasil e vai ser a apresentadora da próxima edição do UX Writing Day, da Mergo.
Outras coisas que me trouxeram conexão com ela: temos mais ou menos a mesma idade; filhos com idades parecidas; já trabalhamos em site de música; somos ligados na cena musical e em linguagem audiovisual. Não é à toa que ela fez o case “UX Writing para o Fim do Mundo”, material que e eu fiquei piradão logo de cara.
Bom, falei demais porra, bora pra entrevista!
O Mapa de Habilidades é um guia criado que pode ser aplicado no desenvolvimento da carreira de profissionais de UX Writing. Como você avalia o impacto que sua iniciativa está tendo no mercado? Como nasceu a ideia de criar esse framework?
O impacto está sendo bom. Muita gente trazendo sugestões, o pessoal do Mercado Livre está traduzindo pro espanhol, a Adelyse Lopes fez um jogo de cartas lúdicas que representam as habilidades do mapa. Recebi muita mensagem no LinkedIn, de gente que tá usando pra migrar, pra estudar, pra estruturar um time.
Eu gosto muito de ver como vai virando outras coisas e as pessoas vão adaptando pras suas realidades. Significa que as pessoas estão prestando atenção e estão usando. Era o que eu queria, não fiz o mapa por projeção.
Isso pra mim é sinônimo de sucesso
A ideia surgiu da minha necessidade em diversos momentos da carreira de writer. Eu vim da área de conteúdo e o que mais me deixou com dúvida quando eu migrei era o que exatamente faziam os writers. Tive que me jogar, ir no feeling e no fim deu certo. Nas discussões coletivas sempre tinha questões do tipo: alguém tem um artigo que fale quais são as atribuições? Quais são os entregáveis?.
As pessoas queriam entender a senioridade delas, ter um mapa, entender o que precisavam estudar ou até mesmo ajudar na publicação de uma vaga. Conforme eu fui ficando mais sênior, eu precisei ajudar e orientar o crescimento de pessoas júnior.
Hoje sou lead, então isso faz parte das minhas atribuições. Eu via sempre pessoas fazendo isso em empresas, mas era um material que não podia compartilhar. Então, chegou um dia que eu pensei “chega, vou fazer isso daí e publicar para todo mundo”.
Qual é a principal diferença entre gerir pessoas e ser uma especialista?
Como líder, a gente está olhando para a gestão de pessoas. Claro que tem muita questão técnica, mas especialistas ficam mais voltados ao projeto e a liderança fica mais voltada às pessoas.
Eu gosto muito de lidar com as pessoas, de ajudá-las a chegar onde elas querem e olhar para a carreira
Fazer essas intermediações, até de ideias, olhar para o âmbito do negócio, de uma estratégia mais ampla. Isso me atrai muito.
Como o seu background e experiências anteriores te ajudaram a ser a profissional que você é hoje?
Eu sou designer de formação (Comunicação Visual — Senac) e trabalhei como designer por alguns anos e com estratégia de conteúdo digital 360. No meu estágio, trabalhei em uma revista da Editora Abril e quando eu me formei fui para um projeto editorial que envolvia pauta além do gráfico e acabei olhando mais para o conteúdo.
Eu tinha um blog, escrevia para um site de música, passei também pela MTV, fiz o Lollapalooza e várias coisas legais. Depois resolvi não trabalhar mais com agência e fui para a maquiagem. Não tem nada a ver com o que eu faço hoje, mas tudo vale. Depois voltei pro conteúdo com foco no YouTube e paralelamente comecei a estudar. Quando a minha filha nasceu eu voltei a estudar UX e em 2019 iniciei minha migração para UX Writing.
Muita gente fala do “racional do Writer”. Como explicar isso de uma forma mais palpável?
O racional faz parte da nossa entrega. Nós precisamos saber construir esse racional, ou seja, saber explicar o porquê a gente tá tomando essas decisões e quais são os dados e informações que a gente tem que justificam isso.
Todo mundo tem um racional, mas quando a gente trabalha com experiência, não é só criatividade. Não é só tirar da nossa cabeça
A gente bebe de várias fontes: de dados sobre nossa entrega, sobre nosso produto, sobre nossos clientes, sobre padrões estabelecidos, de boas práticas de UX Writing, lendo livros, artigos e estudos. E até a nossa prática de escrita mesmo, enfim, boas práticas gramaticais. Tudo isso constrói o “porquê” a gente faz as coisas. Pra mim, isso é o racional do writer.
Na sua opinião, o que seria o “mindset de uma pessoa UX Writer”? Você acredita que exista algo do tipo?
O mindset tem a ver com soft skills, UX Writer tem que ser resiliente. Saber que vai enfrentar dificuldades e vai conseguir superar. Tem que conversar com o próximo, ouvir as pessoas e trabalhar a nossa empatia.
A gente não pode fazer um trampo só porque paga bem e depois ficar infeliz fazendo uma coisa que não tem nada a ver com a gente
Tudo isso faz parte de uma série de soft skills e comportamentos que são essenciais para sobreviver e ser feliz. É sobre isso também.
Isso tem a ver com a maturidade das empresas também né?
A realidade é que muitas empresas não têm maturidade, muitas pessoas ainda não sabem o que UX Writers fazem. É preciso sempre dar uma “capinada”, nem que seja pra ensinar os nossos colegas a entender o que a gente faz e a construir muitas coisas do zero.
Tem que ter força de vontade para colocar os tijolos, fazer a fundação do negócio. A não ser que você vá trabalhar em empresas grandes, com muitos writers, onde as pessoas de conteúdo estão mais integradas.
Essa é uma visão que eu tenho do mercado, que pode estar enviesada pelas minhas próprias experiências, mas eu converso com outros colegas e vejo que é bem essa a realidade.
O que você diria para pessoas que ainda não veem a disciplina de UX Writing como estratégica e substancialmente envolvida com negócios?
É o que pensa muita gente que trabalha com produto e não é UX Writer. Pra essa pessoa, nós mostramos os dados.
São os dados que comprovam que o design de conteúdo é estratégico e necessário para melhorar a experiência do cliente e que isso impacta diretamente nos negócios
Quando estamos em uma especialidade nova, a gente passa muito tempo mostrando como somos necessários. E eu acho que há dados, se não forem dados dessa empresa, tem em pesquisa na internet.
Você fez um case, “UX Writing para o Fim do Mundo”, que causou um “estardalhaço” na comunidade. Me conta um pouco mais sobre sua criação.
Obrigado pelo uso da palavra “estardalhaço” (risos). Eu acredito que o meu case teve tanto impacto porque naquela época as pessoas ainda estavam aprendendo a fazer os seus portfólios e também não se via muita gente misturando ficção para criar case.
Eu me baseei em um autor que eu gosto muito, o Philip K. Dick. Com base no universo distópico do FKD eu imaginei um mundo com um cenário hipotético, meio de fim do mundo, apocalíptico. Depois veio a pandemia, mas não tenho nada a ver com isso (risos).
Essa é pra fechar com chave de ouro. Você lançou um curso de Figma para UX Writers. Como você vê essa sua fase professora / compartilhadora de conhecimento?
Eu vejo com muita felicidade. Sempre esteve no meu propósito como ser humano compartilhar conhecimento. Eu tive blog e canal no YouTube por muito tempo, por gostar de compartilhar as coisas.
Eu gosto de fazer conexões entre as pessoas e conectar os conhecimentos.
Antes, eu achava que eu não era boa o suficiente para ensinar e quando eu migrei pra UX Writing eu vi que tinha uma bagagem de Design, comecei a usar o Figma e passei a amar o Figma. Eu pensei: “cara eu tenho facilidade com isso aqui e eu posso ajudar outras pessoas que vem, principalmente, de áreas que não usam ferramentas gráficas”.
Então montei a oficina de Figma para UX Writers. Isso abriu portas para eu falar em outros eventos, discutir sobre outras coisas. Tem sido muito legal! Neste ano, vou expandir a oficina, estou estudando um módulo intermediário/avançado e também vai rolar outros projetos. Não posso dar spoilers. (risos)
Acompanhe a Dani Cruz no LinkedIn. Se quiser saber um pouco mais sobre a construção do Mapa de Habilidades, confira o Meetup UX Writers Brasil.
Outro papo interessante que ela participou -> Tendências de UX Writing para 2023, com Bruno Rodrigues, Camila Gaidarji, Jailma Souza e Maíra D.
Bom, é isso! Até a próxima camarada, vamo que vamo ✊