Até eu pensava que esse marujo-escrevinhador-borra-papéis tinha sumido. Sucumbido à rotina, sei lá meus crias, jogado papéis…
Virtuais no lixo. 🗑️
Se pá o marujo tinha se perdido no Sofá da Hebe ou no Porto de Vitória após uma generosa pratada de moqueca ou cação, no Kiosque do Alemão. E já dizia aquele som: “quero ser melhor que ontem”.
Queremos e podemos!
Devaneios à parte, entre syncs, quick wins, dailys, design reviews, product visions, dinâmicas, retros, weeklys, refinamentos técnicos, allhands, guildas e todo tipo de alinhamento, minha vida se viu encharcada de:
Concisão-arquitetura-e-hierarquia-da-informação-KPI-API-range-discovery-fatura-aberta-benchmarking-linguagem-inclusiva-fatura-fechada-workingsession-handoff-Jira-separar-dinheiro-Figma-CVC-Notion-modal-stroke-Miro-Flash-card-sorting-utilidade-npv-cac-dindim-de-volta-Fast-spending-megazord-logística-drop-off-w3-cascata-de-validação-clareza-poc-ripa-acionável-positive-banking-churn-primeirinhos-bff-okr-voz-da-marca-contentdesignsystem-contact-rate-slo-fluxo-fluxo-fluxo-migraduxxxx-cafefféféélix-auuuuuu!
Diversas águas rolaram, são vivências que vou guardar pra vida toda, parece que a Terra rodou mais do que rodou de fato. 🌎🌍🌏
Eu já contei um pouco sobre transição de carreira, paternidade e de como tudo começou no amarelinho. Agora é hora de fazer um balanço da minha jornada no will, que se encerrou no dia 10 de outubro.
Vou abordar daquele meu jeitinho de cronista. Receba!
Os monstros que eu tirei da minha cabeça 🧟
Vecna, Jason, Witch, Vader, Cuca, Demogorgon ou sei lá o que, não existe um monstro. Isso é ficção, tá na nossa cabeça, ou inventaram mano. Você é o seu próprio monstro, seja um monstro como Yung Buda. Tô lado a lado com Brumble, procurando “A Fera do Mar” e, ao final, ressignificando o épico.
É muito maluco pensar que ao mesmo tempo que me vejo evoluindo profissionalmente, pessoalmente e espiritualmente, pensamentos ainda urram nos ouvidos: “você não é bom o bastante, cuzão”. Imagens da infância e de outros momentos dolorosos da vida me vem à mente.
A porra da síndrome do impostor eventualmente bate. Para quem às vezes se sente um outsider, pique o Auggie, de Extraordinário, tudo fica mais difícil. Mas ninguém disse que seria fácil e me deixo levar pelas palavras de Brené Brown, abraço a vulnerabilidade, sem medo de ser feliz, de me conectar, dar a cara à tapa, só laissez-faire.
A gente precisa se cobrar menos, mano
Sem jogo de comparação, fazendo a trilha, deixa a cobrança pro Seu Barriga, camarada. O aprendizado é constante. Simbora turbinar a confiança, seguindo as palavras do filósofo MD Chefe.
Ainda preciso desenvolver muita coisa na minha carreira, no meu trampo com software, na vida, mas depois dessa experiência no will deu pra tirar alguns monstros da minha cabeça e seguir o baile. 🕺
Update: enquanto escrevo essas linhas, Rayssa Leal foi campeã mundial, a família de Amarildo finalmente vai receber indenização, o Figma respira na UTI (mas tá ok), a pandemia parece ter cessado, levei meu filho para assistir ao primeiro show de hardcore da vida dele e os assassinos de Genivaldo foram presos.
Entretanto, vivemos tempos sombrios e a democracia está em xeque, Mekele voltou a ser bombardeada, 30 milhões pessoas passam fome no Brasil e muitos moradores do Morro do Piolho ainda não recuperaram suas casas, mesmo com a mobilização feroz de Ferréz.
Que “reiva”, Distopia da porra!
Layoffwill e o fim de um ciclo 🌀
Sou um réu confesso: me apaixonei completamente pelo will. Por sua linguagem simples (a “linguagem do povão”) e por ser tipo um “banco-personagem”, mais próximo da gente. Foi daquelas paixões de verão, rápidas e intensas.
Rolou uma identificação “real oficial” pela marca, pela diversidade, Danny Bond de influencer, remote first, flexibilidade, time de UX Writing unido e cultura de feedbacks. Fui acolhido com carinho por liderança e pares.
Fiz parcerias brabas com Product Designers (valeu Heloy Vidal, Thiago Paulino, Adriano Seiky, Alvaro Votan e Agnes Reis) e com researchers (salve Audrey Melo, Beatriz Gonçalves, Clara Silberschneider e Elenay Oliveira).
Realmente era um lugar com um ambiente foda e perspectiva de crescimento. O plano era subir na escadinha da senioridade, crescer tudo o que eu tinha para crescer e fazer história.
Infelizmente não rolou. Sem previsibilidade nenhuma, rodei no layoffwill, o layoff do will bank
Já tinha passado a primeira onda de layoffs do começo do ano e o discurso oficial era de que o will não entraria nessa. “Banco é diferente, né?”, mas não foi. Na minha cabeça, há algumas hipóteses para esse movimento interno. Mas no fundo, no fundo mesmo, isso não importa. Nunca vamos saber o real motivo do layoffwill.
Para quem tava na lista de desligamento, foi tudo estilo Ronaldinho Gaúcho, o rolê aleatório no banco aprovado do rolê. Um choque! As entregas, o esforço de fazer acontecer, a fé de que tudo ia melhorar, as expectativas de desenvolvimento de carreira em Y, o vestir a camisa, tudo por água abaixo em 5 minutos.
Sem despedida, acesso cortado e tchau.
Perdemos? Não. Fechamos um ciclo e estamos livres, leves e soltos. Como bem disse Maíra Fulígno: “o will perdeu talentos fantásticos e potenciais maiores ainda”.
Uma porta foi fechada, porém outras vão abrir.
Não existe empresa perfeita 🙅
A gente também não é, porra. É ilusão achar que o processo dos sonhos, milimetricamente desenhado, não é imune a falhas. lead time correndo, pasteizinhos, problema com fornecedores, bugs, priorização, despriorização, agenda abarrotada, trade-offs complexos e por aí vai.
Uma empresa é um corpo vivo. Cada área, time, squad é um universo particular, tipo uma compilação de processos próprios com entreveros próprios em constante busca por sinergia, impacto e evolução🪐
Isso é frustrante para designers que acreditam em contos de fadas ou designers demasiadamente utópicos. Filhos e boletos: não há tempo para sonhos quiçá inalcançáveis. Acho que me tornei mais pragmático, real. Ironicamente, eu não esqueço minha criança interior e vivo o meu ofício com tesão, intensidade e a energia de uma track do EKKSTACY.
Nessa jornada, caríssima pessoa que lê essa fábula real, por vezes eu…
Caio, só que sempre me levanto mais forte
Tão forte como uma música do Denzel Curry. Adaptável a vários beats, flows, líricas e consciências humanas, Zel é um “refletor de seu tempo” que tem um modo “extraterreno” de construir suas composições.
Me respeita, sou UX Writer ✍️
Minha saga no will foi de muito aprendizado, mesmo nas topadas. Quando possível, tentei levantar a importância da cultura UX Writing nos meus contextos, a BU (business unit) de cartões e a área de fraude.
É um orgulho imenso ter feito o que eu fiz no will — a atuação focada na acessibilidade digital, na melhor maneira de levar aquela informação com clareza e simplicidade para as pessoas. Isso não tem preço.
Não há UX Writing sem acessibilidade, sem linguagem inclusiva
Até o Banco Central reconhece a linguagem simples como uma ferramenta para diminuir o endividamento da população, conforme estudo publicado pela instituição.
Não era apenas ganhar meu dim e pronto, eu estava trabalhando para uma parte da sociedade (hoje o will tem 3 milhões de clientes) e, claro, para o negócio. Respeita!
É importante o reconhecimento e ser um pouco egoísta com nossa carreira, mas o design não é feito para designers e sim para as pessoas, para o “real world”.
Entre algumas pessoas no will, entre elas lideranças, como Muri e Vini, era muito claro o nosso papel dentro da organização. Mas para outras, UX Writing significava “wording” e não “flow” ou “storytellling”.
Negócios e estratégia? Hum, no way! Era difícil o entendimento de que o lance era envolver a gente desde o início e não só no protótipo em alta, no final da esteira.
Opcional? Não fode, produteiro!
Nem sempre é preciso um discovery aprofundado, nem chamar a gente para todas as reuniões. Mas sinalizar que há uma movimentação para discutir pontos do roadmap ou uma call focada no mapeamento de pain points de alguma jornada é elementar quando debatemos multidisciplinariedade. Respeita!
Adendo: a potência que temos em nossas mãos ainda está sendo reconhecida pelo mercado. Segundo o mestre Jedi do UX Writing brasileiro, Bruno Rodrigues, a disciplina está na segunda infância. Ou seja, ainda há esse gap de entendimento sobre o que fazemos e é necessário continuar a bater na tecla: “writing is designing”.
Adeus Writersgang 😭
Eu me despeço da Writersgang (o time de UX Writing do will) agradecendo Ana Beatriz Miranda e Andressa Luz por acreditarem no meu trabalho. Eu criei conexões lindas com camaradinhas do “noix q ixcreve”. Cica, Thaís, Jão, Ander, Jana, Dolfo e Rick, um até breve. Algumas dessas pessoas, levo para a vida toda.
Nunca vou esquecer a dinâmica com as nossas fotografias antigas, a “terapia em grupo”, quando conversamos sobre nossas aventuras e desventuras com o dinheiro (tendo como base o conceito de Dismorfia Financeira) e as weeklys de toda quarta às 15h. E o que dizer das nossas construções em grupo: o Content Design System, o Willson, guia de redação de produto, e o banco de falas.
Sem pestanejar, meu highlight da jornada will é a chorona-arianafake-amiga-do-Mozine e dona do hit “Peneira”, Yas, a minha conselheira.
Fora o sentimento, nossas trocas no trabalho se tornaram rotineiras. A parceria potencializou a minha visão holística do produto, já que eu trabalhava no contexto de cartão de crédito e ela em conta digital.
O nosso trampo era a união de coração (conta) e cérebro (crédito) do will. De acordo com o head de Design, Anderson Martins, nessa simbiose a conta bombeia a grana para o crédito.
Com Yas, o lema é “ser exatamente aquilo que a gente é” — parafraseando o poeta Paulo Leminski. Nessa vibe leminskiana, por incrível que pareça, também tem abertura para nós loucamente nos apropriarmos de chavões de coaches da Vila Olímpia.
Nunca deixo de acreditar nos meus sonhos, ouço Propósitos, de Thxuzz, e lembro que podemos usar as palavras que a gente quiser. Seja na favela, no asfalto, no mato, na praia, no shopping, no produto digital, em qualquer lugar. É só saber o peso e o tom.
Assim como na vida, com as palavras têm que saber chegar e saber sair
Um dos aprendizados que tive com minha conselheira foi a de que “quando não expomos nossa opinião, não tem troca — só tem ida”. Porra minha gente, eu nunca levei a sério o teatro.
O avô do meu primo Gui é nada mais, nada menos do que o maldito Plínio Marcos, mas eu nunca enveredei nessa vertente da arte. Porém, no will eu realmente consegui me expressar melhor, como no teatro.
Enfim, vou sentir saudade dos joguinhos de Stop e Gartic, das trocas, fofocas e de quando bebemos umas no Sofá da Hebe, brindando a vida de trabalhador do conhecimento e gritando “somos foda”!
Adeus Writersgang!
Cresça, independente do que aconteça 🌸
Tudo o que acontece nas nossas vidas, seja de positivo ou de negativo, é para nosso crescimento e isso não é diferente para mim. “Cresça, independente do que aconteça”, já cantava Alexandre Carlo, do Natiruts.
Se precisar começar do zero, eu começo, sei o meu lugar de potência e estou pronto para trabalhar o engajamento, a conversa e a retenção em algum cantinho que me abrace. Um cantinho que possamos gerar juntos conexões reais, sem preconceito linguístico e devorando um pouco da essência de Patativa do Assaré:
“É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”
Agora a ideia é esse marujo-escrevinhador-borra-papéis velejar por outros mares ao som de Kayuá. ⛵🌊
Salve! Curtiu o meu artigo-crônica? Se quiser bater um papo sobre UX Writing, Design, Música e Vida é só me adicionar no LinkedIn. 😉