O amor pelas palavras: na sala de aula e nas empresas

UX Mania
6 min readMay 29, 2023
Camila é uma mulher branca com tatuagens e óculos vermelho
Camila Gaidarji — Foto: divulgação / LinkedIn

Camila Gaidarji é uma Content Designer paranaense apreciadora de carbonara e poesia que acredita na estratégia como arma para uma melhor experiência do usuário. Atualmente trabalhando no Mercado Livre, Camila tem passagens marcantes por Picpay e Electrolux. Ela não se contenta apenas com a performance nas empresas e também potencializa sua carreira na sala de aula.

”Dar aula é tornar palpável o papel que um UX Writer tem num time. É mostrar um olhar de como lidar com a disciplina, como podemos ser estratégicos e ajudar um time de produto”, explica Gaidarji.

Nesta entrevista, falamos sobre vários tópicos, como: dois artigos dela que viralizaram em 2020, Content Ops, de como fazer um texto simples não é fácil e, é claro, a atuação dupla de Camila (na sala de aula e nas empresas).

Agora é só apreciar a leitura!

Educação X Mercado: o que mais te satisfaz, ser professora de UX Writing ou atuar em uma empresa como Content Designer?

Pra mim, um complementa o outro no quesito satisfação. Eu adoro dar aula, mas eu amo o dia a dia de projetos com equipes. Na atuação da empresa, desenvolvo o que eu quero para a minha carreira, a minha especialidade de conteúdo, o meu envolvimento na construção de experiências. Isso tudo ajuda a melhorar o que passo em sala de aula.

Dar aula é tornar palpável o papel que um UX Writer tem num time

É mostrar um olhar de como lidar com a disciplina, como podemos ser estratégicos e ajudar um time de produto. Pra que o entendimento sobre nosso papel seja entendido e valorizado, seja por nós mesmos, seja por qualquer pessoa de Design ou de Produto.

Você atuou em uma companhia voltada à venda de eletrodomésticos, a Electrolux, sendo sua porta de entrada no mundo do UX. Como foram seus primeiros passos?

Meus primeiros passos foram entender como a Electrolux se comunicava e mapear como a gente escrevia em todos os ambientes de comunicação. Foi muito estudo, muito Excel, muita documentação, muita consistência de termos e, principalmente, um trabalho de tirar os termos técnicos que só o time de engenharia dos produtos conhecia, mas o usuário não tinha a menor ideia do que era.

Lembro dessa época com “muuuuito” carinho. Foi um pouco assustador, porque foi meu primeiro trabalho no mundo do UX (tirando freelas), mas eu também estava muito bem amparada pelo Bruno Rodrigues, que foi meu líder de conteúdo nos primeiros 4 meses.

Fui recebida de braços abertos por uma equipe muito sênior, atuando com os times de Design e Marketing. O Bruno e eu tínhamos um projeto juntos e, depois que o time foi vendo meu trabalho e entendendo a disciplina (que pela primeira vez chegava na Electrolux Brasil), acabei abraçando outros projetos.

Ilustração de uma prato de macarronada
Aquele Carbonara que Camila gosta — Imagem: brgfx / Freepik

Depois você foi para o Picpay e acabou tendo uma passagem pela área de Content Ops. Como foi essa experiência?

O Ops é basicamente criar um produto, só que pra melhorar processos, dia a dia e etc. Minhas atribuições em Content Ops eram deixar o dia a dia do meu time de Content Design mais fácil e escalar a disciplina.

Eu e a Carla Paganini olhávamos pra um problema que tava rolando. Exemplo: o time de Content Design só é lembrado no fim do processo. Nós fazíamos pesquisa com o time de Content Design, Product Design, Produto, analisávamos resultados, buscávamos entender maneiras de mudar isso.

Tinha conversa com o time de Design Ops para ver se existia uma maneira de fazer isso pro time de design como um todo (content+design+research) e teste (como um MVP) em alguma squad pra depois escalabilizar.

Eu também atuei muito forte com o Design System, criando um Content Design System que fosse integrado, pra que o time de Content Design pudesse focar em coisas mais estratégicas. Então uma tela de erro de internet está pronta, lá na biblioteca do Figma, com ilustração e texto, é só o designer pegar de lá.

Em 2020, você publicou um artigo sobre as diferenças entre UX Writing, Copywriting e Webwriting. Havia muitas confusões sobre as disciplinas no mercado. Como você avalia o retrato atual?

Tem muita gente que vem falar comigo com dúvidas sobre o processo de writing. O intuito do meu texto foi deixar um pouco mais palpável para quem tá começando. É muito difícil ter exemplos reais de como é um processo, de como é o dia a dia.

Eu acho que ainda existe um pouco dessa confusão, a gente vê várias vagas com descrição errada. Mas é bem menos do que antes. A comunidade de writing tem falado muito sobre isso no Linkedin. Há profissionais da comunidade que mandam mensagens para empresas falando: “olha, o que você quer com essa vaga?”

A confusão ainda existe porque muitas pessoas estão fazendo a migração de área dentro da própria empresa (são as primeiras pessoas a ocupar essa cadeira). Elas fazem o Copywriting, coisas pra site, tendo que pensar Arquitetura de Informação, estrutura de menu, storytelling de página, etc.

O UX Writing vai ter essa função educativa desde quando você está atuando na sua empresa, e levando a palavra do UX Writing, como na questão das vagas. A ideia é que a gente consiga cada vez mais distinguir as diferenças porque são outras modalidades de escrita, outras especificações, habilidades e metodologias.

Também em 2020, você escreveu um texto com dicas no qual dizia: “Não importa de onde você veio, apenas o seu amor por palavras”. Essa frase vale até hoje?

Sim! Hoje trabalho com pessoas que são formadas em filosofia ou nem são formadas, vieram do desenho ou de qualquer outro lugar.

Content Design/UX Writing é gostar de palavras, sejam elas suas, do time de produto, de negócio, do usuário ou de quem for.

Claro, desde que tenham coerência com o storytelling do que você está construindo pro usuário e se isso vai atingir o objetivo que sua equipe quer.

Uma porção de letras reunidas sem formar uma palavra definida
Amor pelas palavras — Imagem: GarryKillian/Freepik

Na sua opinião, quais são as principais dificuldades e desafios de uma pessoa UX Writer / Content Designer?

Entender que se ficarmos só no texto, ajustando botões, vírgulas, encurtando textos, grande parte do nosso potencial de valor para o produto se perde.

Escrever um texto simples e fácil de entender é uma tarefa MUITO difícil

Se tá fácil pra alguém ler é porque foi pensado muito antes de ser escrito. Mas isso é consequência de uma boa comunicação com o time de produto e negócios, que nos passa o objetivo do produto/feature/melhoria, que depois alinhamos com o que já sabemos do comportamento do nosso usuário, ou encontramos com pesquisas, pra iterar e rever e refazer num storytelling que faça sentido pro usuário, pro tom e voz da marca e pro negócio.

Não é só sobre texto. E acredito que isso hoje é o mais difícil de desapegar.

Como você imagina a Camila daqui a 5 anos?

Não tenho a menor ideia e amo isso. Há 3 anos, eu não me imaginava estar onde eu estou, e eu amo onde eu cheguei profissionalmente. Então, não tenho a menor ideia de onde eu vou estar em 5 anos, mas eu sei que eu tô adorando o caminho até lá.

Iae, o que achou do papo?

Se você quiser saber mais sobre o trabalho da Camila Gaidarji como professora de UX Writing, é só acessar o curso da Tera.

Quer entender um pouco mais sobre Content Ops? O artigo “Content Ops: nem todo processo de conteúdo funciona”, da Roberta Cadenas, Senior Content Ops Designer na Petlove, é muito legal.

Bom, é isso! Até a próxima camarada, vamo que vamo ✊

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Ideias, descobertas, engajamento, transição. Um blog sobre UX Writing, Design, Comunicação, Música e outros assuntos instigantes. Por Felipe Madureira.