UX Writing, a mediação, o racional e o pote de ouro no final do arco-íris
O que rolou no último meetup da comunidade UX Writers Brasil
Esse texto foi feito inteiramente pensando em neutralidade de gênero e é um esquenta para o UX Writing Day — que começa nesta sexta-feira,16.
Pois é, mais uma vez eu aqui fazendo uma “resenha de live”. A primeira, para quem quiser curiar, está aqui — é o texto “Conexões, literatura, CNV e empatia no meetup Ladies That UX UDI”.
Desta vez, a “resenha de live” abordou o último meetup da comunidade UX Writers Brasil — que contou com a presença de Mariane Lorente, Content Design Manager da Loggi, e Dante Filgueiras, UX Lead do Mercado Pago. A conversa foi mediada por Cris Luckner, uma das fundadoras da comunidade e UX Writer Sênior no Nubank. Todes 3 vão estar no evento da Mergo.
O tempo foi curto para tanta pergunta lançada no chat, mas as que foram respondidas por Dante e Mariane (e comentadas por Cris) deram pano pra manga. E funcionaram como um overview das expectativas dessas pessoas gestoras sobre o processo de contratação de UX Writers no país — em especial em posições de menor senioridade.
Podemos dizer que o papo deu o “caminho das pedras” para quem almeja atuar na disciplina chegar ao “pote de ouro no final do arco-íris”.
Como conquistar uma vaga de UX Writer? Esse foi o mote do encontro, que, apesar de discutir um assunto “sério” foi bastante tranquilo, com direito até a uma pequena interrupção dos filhos da Cris. Coisa que pode acontecer em qualquer transmissão ao vivo e que foi contornada sem maiores problemas.
Vicente e Eduardo deviam estar em algum entrevero, mas não apareceram nas imagens — diferentemente do que aconteceu no caso do professor Robert Kelly, na Coreia do Sul. Quem quiser assistir ao vídeo do meetup, confira no link.
3 competências essenciais: Redação UX, Pesquisa de UX e Arquitetura da Informação
Mas vamos ao que interessa. Mariane comentou que quando pensa em uma contratação de uma pessoa em UX Writing, ela leva em consideração 3 competências: Redação UX (especialidade e exclusividade de profissionais dessa disciplina), Pesquisa de UX e Arquitetura da Informação.
E detalhou que a experiência profissional não é delimitada necessariamente por uma trajetória em equipes de Design. “Profissionais de Comunicação, em geral, já fizeram essas coisas (as 3 competências citadas) de alguma forma”, frisou.
Por isso, um fator importante, segundo Lorente, é revisitar a vida profissional e fazer um “de” — “para”. Esse “de” — “para” foi explicado melhor no final da live. E significa que as pessoas na entrevista precisam fazer uma “liga” entre o que já fizeram profissionalmente com o que a área de UX pede. Tem que dar um “match”. Ou seja, “contar uma história que faça sentido para quem está recrutando e documentar isso tudo”, disse.
Cris complementa: “(…) as pessoas acham que têm que deixar para trás tudo o que fizeram e que não há conexão, quando na verdade Design é uma área, UX especificamente, que acolhe muito essas experiências diversas”.
“É muito importante a gente saber como a pessoa escreve. Coloca isso tudo num PPT, capricha no storytelling. Isso é uma bela amostra de como você pensa e trabalha. Quando você conta essa história, já está mostrando o que pensa e seu potencial”, complementou.
“Quando você mostra o seu racional (palavra muito famosa dentro desse universo), a gente já consegue saber se vai funcionar ou não”
De acordo com Mariane, a cereja do bolo é falar do impacto do seu trabalho para o negócio. “Por exemplo, o que mudou depois que esse site foi pro ar. Se você não tem nada para mostrar, inventa, monte um case fictício. Eu lembrei da Dani Cruz que montou o App do Fim do Mundo, visionária!”, disse (risos).
Para Dante, ser capaz de pegar um problema de negócio super complexo e tangibilizá-lo é essencial para posições mais seniores. Já para posições de júnior, segundo ele, vale a pena buscar um preciosismo e capricho em relação ao texto. Ou seja, ter o básico de usabilidade textual. “O texto é a ferramenta mais importante no começo da jornada como UX Writer”, emendou.
UX Writing é um trabalho de mediação
Ele explicou melhor a seguir o que se espera de profissionais mais experientes. “Para além das hard skills (…) eu acho que para a posição de writing as soft skills de comunicação — que estão relacionadas à negociação com stakeholders e a articulação de ideias para explicar e defender uma solução de texto, por exemplo — são muito importantes”, explicou Dante.
“Não basta a pessoa criar experiências incríveis ou escrever textos maravilhosos se ela tem dificuldade na hora de alinhar essa experiência com os objetivos de negócio. E (dificuldade) na hora de explicar/defender as próprias soluções para desenvolvimento, negócios e produtos”, disse. Para Dante, UX Writing é um trabalho de mediação.
Cris comentou sobre esse relacionamento e da importância da evangelização da disciplina dentro das empresas. “É ir lá no ouvido de PM´s (Product Managers) e dizer que a gente tem estar lá junto, fazendo o road map, junto de PD´s (Product Designers) e dizer o quão importante é estar junto pra pensar a experiência. Saber contar história não só na entrevista, como depois conseguir dentro da empresa influenciar e lutar por espaço. Isso é algo que ainda não é dado”, afirmou. Em suma, tem que saber conversar com as pessoas.
Mudança de cenário
Tanto Mariane como Dante notaram que as pessoas estão se preparando melhor para as entrevistas, ou seja, estão menos “verdes”. “Há dois anos, quando eu montei o primeiro time na Loggi, fazendo uma busca no LinkedIn, não tinha quase ninguém com o título de UX Writer. E ali eu tive que fazer uma escolha de apostar em pessoas que ou tinham feito algum curso, ou tinham alguma noção. Era pouca gente. Hoje a realidade é completamente diferente”, explicou Mariane.
Dante complementou: “Tem cada vez mais pessoas se candidatando e trazendo consigo um conhecimento maior sobre o que é UX Writing, de como a gente trabalha junto com Design e Pesquisa, de boas práticas específicas da disciplina, citando livros, cursos que fez”, afirmou. Ele lembrou que até pouco tempo atrás a maioria começava na área sem um conhecimento prévio sobre escrita para interface.
A demanda está se tornando cada vez maior, disse a gestora da Loggi. As empresas estão percebendo que elas precisam de UX Writers e não é só pelo Hype. Vai ter que haver investimento nessas pessoas. Não tem UX Writer Pleno e Sênior para todo mundo, o que eu acho que é um “problema bom”.
Uma das perguntas mais esperadas pela “galera do chat” foi: como romper a barreira da primeira vaga? E a resposta dada por Lorente se conecta com o que ela falou sobre investir nas pessoas. Para ela, a barreira é rompida de duas formas: ou toda a empresa parte do zero junta ou com a maturidade dos times (quando abre-se espaço para profissionais com mais tempo de casa conseguirem mentorear quem está chegando).
Para Dante, para romper essa barreira é preciso se apropriar da própria história, da própria experiência profissional, como também da académica, interesses de estudo. Segundo ele, quem contrata quer entender quem é essa pessoa num sentido amplo.
“De”, “para”, racional, mediação, Arquitetura da Informação, Usabilidade, Storytelling. Agora é só se preparar, arquitetar na mente toda a sua caminhada, que logo mais é a hora de se chegar no “pote de ouro no final do arco-íris”.