UX Writing da sofrência: esperança, paternidade e a chegada no will
Já faz tempo que esse marujo-escrevinhador-borra-papéis não aporta por aqui, não é? Resolvi tecer novas linhas no modo descarrego, pique retrospectiva de um ano tão pesado, mas que ao mesmo tempo trouxe iluminação e jogou um fio de esperança para 2022. Jogamos as sementes em 2021, bora se preparar para a colheita.
De onde a intro foi escrita, Tamandaré, litoral sul de Pernambuco, encontrei uma esperança no banheiro, “sutilmente” no exato momento do treme-treme das caixas ao som de “favela venceu”, track do último disco do Don L.
Dizem por aí que o encontro com a esperança, bichinho verde saltitante das noites, é sinal de sorte. Já tenho a sorte de ter uma família maravilhosa, Manoela e Francisco, além de trabalhar com o que gosto.
Só que o pensamento é mais elevado, como naquela canção de Raulzito: “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade”. Esperança para a geral! Sem criar expectativas, assim inicio meu novelo de ideias.
Update / triste ironia: enquanto finalizava esse artigo, com exatas 7 páginas, o meu número da sorte, em clima total alto astral, uma guerra se instalava no coração do leste europeu. De quebra, mais um ano de pandemia sem carnaval (quero frevo, porra!).
Não vamos esmorecer, a Vida é Desafio — já dizia Racionais. Pode ser que 2022 seja um ano pesado, mas estamos aí. Entre na minha jangada para viajarmos um pouco mais.
Papai UX Writer
Eu pirei no artigo da Thalita Monte Santo sobre maternidade e UX e pensei: “porra, preciso escrever sobre isso também”. Brotou a ideia de escrever no estilo ˜artigo-gonzo˜, relembrando os bons tempos do jornalismo musical que aborda vários temas utilizando uma linguagem “nua, crua e na sincera”, com gírias, humor, palavrões e sem compromisso com a norma culta (saiba mais sobre a minha trajetória lendo o primeiro artigo do blog).
A coincidência entre nós, marujo e Thalita, é que nossos filhos têm o mesmo nome e sofreram com fortes cólicas, atenuadas com música. No caso do meu Francisco Mendes Madureira, homônimo do lendário Chico Mendes, a música “Acabou Chorare”, dos Novos Baianos, batia forte. Bastava ele ouvir a voz de Moraes Moreira que o clima era outro. No caso de Thalita, o antídoto era o clássico dos Beatles “Hey Jude”.
Uma grande parte do que sou hoje, o meu amadurecimento, veio com o nascimento de Chico, meu “cangaceirinho”. O processo como um todo — com uma série de obstáculos, vitórias e derrotas, desafios e aprendizados, além de um bocado de sofrência — viabilizou minha chegada até aqui.
Não jogo o resto da minha vivência no lixo. Mas, realmente, percebo o divisor de águas que foi a minha paternidade. Me tornei um papai UX Writer.
“Loucuragem, Loucuragem, Loucuragem”! O bordão foi criado por uma pessoa que vou falar depois, não é o bordão do sapatênis que fala Luciano Huck, hein.
Tudo aconteceu na loucuragem real. Entrava de cabeça na migração, Chiquim conhecia o mundo, meu negócio de bolos artesanais, a Benedita Bolo de Rolo, rendia os primeiros frutos, porém empreender é desafiante pra danado.
De quebra chegou a pandemia e toda sorte de questões externas flutuando sobre mim — haja inteligência emocional, crias!
Heurísticas de Nielsen e a autonomia do bebê
Em maio de 2020, Chicote completou 1 ano de idade e logo começou a dar os primeiros passos. Pais sem norte, a rotina dá um giro de 360 graus e agora aquela pequena pessoa passa a ter mais autonomia de movimento, saindo em disparada por toda a casa.
Há certa similaridade com uma das heurísticas de Nielsen mais proeminentes: “Controle e Liberdade para a pessoa usuária’’. O que a gente tem que fazer é deixar a criança livre, mas impondo algumas restrições para manter o “sistema” sadio — no caso a dinâmica família/trabalho. É assim em UX, a pessoa usuária precisa ter a liberdade para fazer e desfazer ações.
Mas não é “liberou geral” né, meu chapa. A vida de uma criança necessita de uma rotina com padrões de horário bem definidos. E a heurística de “Consistência e Padronização’’ é a que mais se relaciona com esse ponto.
Quem trabalha com UX Writing não vive sem o conceito em mente. É uma busca constante por manter a consistência do conteúdo em todos os fluxos de um produto, chatbot, VUI ou outros meios.
Vale a pena destacar um trecho do artigo da Thalita que tem muito a ver com esse link UX /“real life”: “solucionar uma dor com algo/uma mensagem que seja confortável e facilmente reconhecível é fundamental para o sucesso de uma jornada. Mas você só vai entender qual é a Hey Jude de um usuário se souber escutar e mensurar dados.”
Paciência, sua hora vai chegar
Uma outra ponte entre paternidade e UX Writing é a paciência. E nessa toada retiro da cartola “Tá Escrito”, música do querido Xande de Pilares, do Revelação. É só no movimento “erga a cabeça, mete o pé e vai na fé” que as coisas acontecem. Na sofrência e na “sua hora vai chegar”. A vida é um eterno “Nóis sofre, mais Nóis goza”, track-vivência da lenda Genival Lacerda.
É trabalho de dia e curso de noite, com freela no balaio do devoramento do Medium, da obra da Torrey e outras pessoas autoras, além do material do site da comunidade.
É construir o storytelling para as entrevistas, mexendo no portfólio enquanto desbrava os mais diversos repositórios, sem querer abraçar o mundo. Na levadinha “feito é melhor do que perfeito”.
Bora lá exercer a famosa cara de pau citada por Bruno Rodrigues diversas vezes por aí e confiar na caminhada, no background e nos calos adquiridos. É assim que as coisas funcionam. Foda-se os milhares de nãos na cara, você é potência.
Porém-contudo-entretanto: tem que colocar na cuca que nem adianta esse rolê todo, a paciência e dedicação, se você não desapegar do jornalismo, do marketing, da publicidade, de Letras. Desapega, pô!
Foda-se que você não sabe sobre determinado assunto, pergunte e troque com a galera, “perturbe com carinho” no privado do Linkedin, sem medo de ser feliz (e depois de outubro deste ano, quiçá, vamos ser mais ainda, né?).
Seja você sem rédeas, jogue fora o aperreio da “exposição aos julgamentos da comunidade”. UX é assim, parça.
Portanto, paciência, amigues, é o que mais devemos ter. Com nós e com a pirralhada. Paciência com as birras, paciência para aguentar as fases que mudam a 120 quilômetros por hora; paciência para as 120 trocas de fralda por dia; paciência na fila de atendimento do hospital; paciência com as rebeldias; paciência pra dizer não e resistir às investidas em direção a objetos altamente deliciosos. Yumi.
Agora eu sou um willer, caraí! 💛
Sofremos no pique “UX Writing da sofrência”, mas também ficamos “numa relax, numa tranquila, numa boa”, jogando na pista um dos mantras do saudoso mestre Tim Maia.
Mesmo com todas as superficialidades de uma modernidade líquida desse tal Mundo Vuca, a gente usufrui de pequenas e grandes vitórias com consistência.
Só no Drift de Monza, dei uma bela guinada na minha vida em 2021, conquistando a almejada posição de UX Writer Pleno em uma das fintechs de maior impacto social e crescimento do Brasil, o banco digital will Bank (é assim que se escreve, com letra minúscula).
Depois de quase dois anos de lutas, recebi o sim — “barril dobrado”, como se diz na Bahia, ou “estouro’’, em São Paulo. Me lembro como se fosse hoje: em silêncio, soquei o ar igual ao atacante que comemora um gol de final de campeonato (do Corinthians ganhando do Palmeiras, é claro). Nóis é brabo!
Não sei se pra tudo é preciso de “sangue, suor e lágrimas”, mas disciplina e autoconfiança é sempre bom. E naquele dia do sim fiquei no esquema Marina Sena em “Por Supuesto” e “deitei no sorriso” da Manoela, minha companheira das batalhas de linhas, fluxos e bolos.
Sorriso misturado com lágrimas de felicidade. Somos pique Lampião e Maria Bonita do asfalto, em busca de realizar sonhos no Grande Sertão: Veredas chamado vida.
Um filme passou dentro de nossas cabeças. De quando descobrimos que estávamos “grávidos”, sentados em plena estação da Sé nos questionando: “porra a gente vai aguentar o rojão? Como vamos cuidar dessa criança?”.
Se o cara de hoje (que deu uma choradinha de leve nesse instante) pudesse falar com o cara de ontem, mandaria o recadinho “oxe, vocês conseguem, ouçam mais Don L”:
“Ei guerreiro, sinta como vai ser
Cê não tem agora, mas crê
Vai chegar a hora e a vitória vai ter”
Enfim, adotei uma persona estilo subcomandante Marcos trilhando na “selva do mercado e da sociedade”, me libertando de um punhado de crenças limitantes, desmistificando várias coisas.
Em punho, algumas armas como uma “peixeira de racionalidades e sentimentos”, atitude e meu instinto de cooperação. Este “outsider” que vos fala ficou só “arrodeando” os caminhos que levam ao conhecimento em Design e UX Writing, em constante ressignificação do propósito na Terra (ainda estou no processo, é contínuo).
Seja o que for, agora eu sou um willer, caraí!
A “gangue” de writing e o chapter de Design do will
Logo na minha chegada ao will me deparei com um ótimo ambiente de trabalho, seja no chapter de Design, como no time de UX Writing. Squads diversas, com pessoas do Brasil inteiro e que, apesar de estarem na bolha do setor financeiro, refletem, de algum modo, o mosaico brasileiro de vivências e origens variadas.
Fui acolhido e tive a liberdade para expressar meus pontos de vista nas cerimônias e desenvolvimento de soluções de Design com foco na pessoa usuária e OKR’s do banco, prezando por uma experiência positiva de ponta a ponta.
Aqui a parada não fica no “é só um textinho”, a importância tático-estratégica do writing é levada a sério.
Claro que temos falhas, como em todos lugares, porém vamos evoluindo na lida diária, só na agilidade, empenho, compreensão e muito trabalho. Não tem preço os critiques (de Writing e Design), os testes de usabilidade, as pesquisas e os altos papos com as pessoas que estão do outro lado da tela, fazendo toda essa “magia” acontecer. Não somos nada sem elas!
E essa conexão com clientes do will é um dos pontos mais tocados pelo “timoneiro de sonhos” Felipe Félix, nosso CEO.
A “gangue” de writers do will, liderada com braveza pela Ana Beatriz Miranda, está crescendo fortemente e seus braços se dirigindo a todos os lados do negócio — um crescimento sustentável, como uma árvore saudável com raízes (aka processos) sólidas. É lindo ver como a Bia recebeu a gente e trabalhou de forma a consolidar o grupo, dando abertura para que cada pessoa possa brilhar com suas devidas habilidades. Isso é Design!
Apesar da divisão de áreas, o will é um campo aberto para experimentações. Enquanto trabalho no departamento de cartões com a camarada Andressa Luz, fera nas dinâmicas que cuida de nosso guia de redação e tem muita energia positiva emanando por aí, PMA, desenvolvo projetos de acessibilidade com o “sorriso mais que maroto” Yasmin Nariyoshi. Nesse aspecto é de se louvar o trabalho de evangelização da acessibilidade da dupla da pesada, a “virada no mói de coentro” Aninha Lima e a firmeza total Rayssa Martins.
Nesse experimentalismo, descobri a beleza dos chatbots com a “sagazresolvetretasdeCX” Jana Vallim e a “menina matuta dos games” Thaís Castro, a alegria do time, foda nas artimanhas da língua, da marcenaria e do Excel.
O time de UXW recebeu, ainda, o reforço de Cássio Almeida (em Investimentos/conta). O “menino Content Design Thinking” — o autor do bordão “loucuragem”, grande profissional que é um dos destaques da próxima edição do UX Writing Day. Além dele, tivemos a sorte da entrada de Ander Silva em Growth. Ander é “good vibes” demais e conta com um olhar apurado sobre diversos assuntos.
Cica Ananias, a magnânima do Frontitude, Content Design System e do carisma, e Lindolfo Sancho, o cara de insights insanos, completam a gangue de UX Writers / Designers de Conteúdo / Designers Conversacionais do will. Glorificado na Terra por pertencer a esse time, estamos apenas no começo!
O chapter de Design é gigante e cresce dia após dia, por isso nem dá para citar a galera toda. Destaco algumas pessoas que tive algum (ou muito) contato, como o Vinícius Prado, UX Manager, parece que o conheço há anos, é o ˜pau pra toda obra˜ do capítulo. Nesse “bololô” todo tem a galera massa de Research e o time de ilustra/motion que tá trazendo brilho e brasilidade para nosso produto — salve Jaime Maia, Camila Santos e Thais Emily.
Que turma -> Fernando Nobre, Drey Melo, Agnes Reis, Thiago Paulino, Julio Reis, Jana Andrade, Álvaro Votan, Heloy Vidal, Isabella Matos, Bianca Trancoso, Otávio Gomes, Anderson Martins, Gusta Stefani, Quitto Nogueira, Thaina Schroeder e Felipe Domeneguetti. Não posso esquecer de algumas cabeças do time de Produto e CXM — Cássio Corrêa, Lore Nelli, Weslley França e Nicolas Scarpi. É muita gente foda! 💛
UX, sofrência e a relação com a natureza
Após uma semaninha em Pesqueira, agreste de Pernambuco, onde vi outra esperança e uma iguana na árvore do quintal, passei por Recife (terra do mestre Chico Science, uma das minhas maiores inspirações, gênio que nos deixou há 25 anos). E estou novamente na babilônica São Paulo.
Em Tamandaré, eu vivenciei diversas sensorialidades…a areia dialogando com a água do mar, os sargaços e arrecifes… As conchas, o timbu andando em cima do muro, o sagui dando um rolê nos fios de alta tensão, a garça branca estilo bailarina da maré, a maria-farinha na “nóia”… e os sobrevoos do carcará e da coruja.
Você viajou comigo até agora e com certeza percebeu que eu fiquei falando toda hora da “sofrência”. Não é à toa, tá até no título. Uma das coisas que me impactaram no final do ano passado foi a morte precoce da cantora Marília Mendonça. Recebi a notícia da morte da “rainha da sofrência” no meio de uma reunião do will.
Eu nunca dei muita bola pra ela até escutar essa música do Bin e perceber a Linguagem Simples de Marília. Ela é pique Design Emocional, a bicha era visceral. E nem sou eu que falo isso, é o Zezé. Diferentemente do sertanejo mais antigo, que utilizava palavras mais rebuscadas, Marília ia direto ao ponto, falava a língua do povo e tocava na alma.
UX é mais do que resolver problemas em produtos digitais. O que está por trás de UX eu vejo na sofrência de Marília, na natureza, nas relações familiares ou corporativas, na vida em sociedade. A experiência não pode se dissociar da natureza, vai além da experiência humano-máquina.
E o que dizer do meu cangaceirinho Francisco e sua primeira vez no mar. Ele vivenciou naquele dia sua primeira “experiência UAU”. É tipo quando uma pessoa entra em contato com uma interface pela primeira vez.
Cada pessoa tem uma experiência diferente, uma sensação diferente, e a gente luta sempre pela “experiência UAU”. Pela linguagem que traz conexão, pela acessibilidade e empatia.
Para 2022, vamos cada vez mais “sonhar junto”. Com muita resiliência, resistência e esperanças espalhadas pelos banheiros da geral. As sementes estão germinando.
Que bom você aqui na minha jangada de brisas e insights existenciais. Navegar é preciso.